sexta-feira, 30 de maio de 2008

Entre monstros e contos...

Ficar no escuro não é tão desagradável quanto eu achava há um tempo. É, creio que cresci! Pena ter perdido parte da inocência nesse período. No entanto, alguns fantasmas sempre permanecem; por mais que sumam por um tempo, eles voltam. Algumas coisas nunca mudam. Nunca mesmo.

Ultimamente correr para encontrar o sol virou hobbie, alguma coisa tem que ficar quente. Não que exista um pedaço de gelo, há um (r)esfriamento de lágrimas não caídas. Passam a fazer parte dessa realidade outras ilusões.

As especulações sobre qualquer coisa têm incomodado tanto que me pergunto se tudo vale à pena mesmo. Existem coisas que ninguém merece ouvir, outras que nunca serão ditas ou subentendidas. Pequenos fantasmas continuam criando propensões a catástrofes.

É... Algumas coisas nunca mudam!

Dentro de você, quantos vultos existem?

A madrugada não é mais tão apreciada como antes. Há outros vícios agora. Algumas músicas continuam fazendo falta e uma parcela de pessoas foram embora. Eu continuo inspirando a vida entre o que não faz sentido e as significações. Um sono interrompido. Porém, nem tudo é assombração. No decorrer de incontáveis minutos, descobre-se que algumas assombrações eram sombras de um objeto qualquer. O medo se esvai.

A cabeça tem importunado mais esses dias. Feridas que não eram para existir acabam exteriorizando coisas que pensava que se extinguiram. Expirando a vida em um sono sem poder dormir. Outras assombrações já não são puramente sombras. Não se pode fugir de especificidades.

Não existe esconderijo eficaz quando sua paz é ameaçada constantemente. Não tem acordar só você, uma brisa e um pensamento bom voando.

Às vezes, eu só quero poder respirar, apenas tudo isso.

Dê-me um pouco de tempo, ok?


Just a little time... for my breath.


Ps: Choveu um pouco hoje. O tempo estava meio oscilante. Ora nublado ora sol. E assim demarco meu dia. Prefiro lembrá-lo pelo céu que a cor fez do que pelas datas que compõem as horas. Uma pequena mania, só isso.




Catherine Menon*, memórias de fantasma.



Dans l’avenir et lê passé.

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* Catherine Menon é uma personagem criada por mim para uma história que ainda não saiu da minha cabeça. Contudo ela já se faz presente em alguns contos meus.

6 comentários:

Juliana Correia disse...

Ai Nina..
Sempre bom ler-te!
Dentro de mim habitam muitos vultos... e esse constante crescer extingue alguns, mas traz novos.
E a vida não é mesmo esse ir e vir que a gente não entende mas vive? Sempre somos. Já disse Rita Lee que "aonde quer que eu vá, levo em mim o meu passado, o que eu me lembro e o que esqueci..." e vou somando. No fim sou tudo, inclusive o escuro que não conheço!

liuhori disse...

Sombras que a humanidade nunca se libertará. Somos escravos do nosso passado: do que falamos, do que fizemos. Tudo ao nosso redor quer nos padronizar, nos tornar robóticos, fazendo um homem traumático e automático em seu comportamento.
A vida do homem resumiu-se em prolongar a vida, tornar-se eterno; esqueceu-se de viver o agora, de fazer tudo no presente; porque o depois pode não mais vir. Esperamos um momento de escapar da sociedade e assim acabamos vivendos apenas para morrer.

um texto maravilhoso com um tema altamente atual. Expressou todos os medos do homem em um só pensamento claro e bem elaborado

Lucas Moura disse...

"Porém, nem tudo é assombração."
Vale a pena, meu bem. Vale a pena.
Existem fantasmas que não vêm para assombrar... Eles dão abraços que não são reais, dão beijos carinhosos que não sentimos na pele, mas sentimos na alma. Eles estão presentes, mesmo não estando sentados com corpos quentes no sofá.
Afinal, fomos nós que fizemos dos fantasmas essas coisas tão assustadoras.

Lindo texto.
Adorei!

beijos!

Bruno Azevedo disse...

oi NIna.
Antes apenas lia seus textos e fica imaginando que menina seria essa que consegue fazer tão bem o que eu tento de forma tão ineficaz - escrever e expressar o que há dentro de mim.
Mas sábado te conheci (olha que prazer. É tão bom ver que nossos ídolos são humanos como nós.

beijão. texto lindo.

PS: gostei muito do texto de Clarisse Lispector que está ao lado. Muito lindo!!!

Daiane disse...

"Algumas coisas nunca mudam. Nunca mesmo."

É verdade. Algumas coisas parecem mudar, ganham até forma e colorações diferentes, mas no fundo ainda são as mesmas. Ainda não sei se isso é bom ou ruim, e nem sei por que deveria decidir isso. Mas a verdade é que eu gostaria que algumas coisas mudassem.

Nina, seus textos estão excelentes.
Gostei muito de "Enantiose", especialmente do final. Vi um pedaço da minha vida - o qual ainda tenho dificuldades em admitir - escrito naquelas últimas palavras.

Beijo!

Roberta Costa disse...

"Não existe esconderijo eficaz quando sua paz é ameaçada constantemente"

Realmente, não existe. E, estar em paz, é a coisa mais maravilhosa que pode existir. Na madrugada, no sol, em qualquer lugar. =)