sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Quimera.

Seus olhos verde-musgo procuravam algo desesperadamente para se apoiarem.

Eu senti pena da sua fragilidade infantil. Suas rugas não diziam muita coisa. Não eram, sequer, experiência. Uma criança debilitada que procurava o seio de uma mãe para se sentir protegido. Uma criança afugentada em uma pele de uva seca.

Da sua boca não mais escorria o escárnio, mas estava trêmula para gritar um choro angustiante.

E seu tronco encurvado, as pernas debilitadas... Não causava mais medo. Não era mais temido como antigamente. As pessoas agora sentem pena, dó! O peso das traições, intolerância, chicotadas, batidas! Ah, essas pesam sobre seu coração. Nunca foi amado, nunca amou. Agora o fardo do não-amor aperta tua mente. Não te servem mais bebida, aquela que sustentava suas maldades.

Teus escravos não consertaram tua cadeira de balanço favorita. Agora estais sentado no áspero chão do arrependimento. Enlouquecido. Enlouquecido pela sanidade que te fez ver o trágico rumo dos botões, que hoje desabrocharam como flores azuis e sem vida. São teus filhos, os sem-vida!

Sua mulher nem mais olha para as cores dos dias ou das noites. Ela aprendeu a ser cega. Nem os olhos da alma piscam mais para a vivência do abismo que vossa pessoa criou.

Um demônio.

Não necessita mais se enrolar no cobertor da esperança, pobre diabo, que nem o frio te quer mais.

Essas tuas chagas criam o odor da tua decomposição. Só as moscas te fazem companhia! Os urubus te cercam interessados na tua herança.

- xóóó! – grita para eles.

Sua voz não passa da garganta, não é?

Nem teus cascos servem mais de ataque.

Não-causa-mais-medo!

Não adianta desejar ardentemente a morte. Essa só virá depois de teres sofrido até a última gota, e ainda resta um frasco inteiro.

Fique só você, tuas moscas, os urubus e a solidão.

Toda sua companhia inseparável.

Mas antes de sair... Ah! Antes de sair, eu cuspo no chão ao teu lado para mostrar-te o nojo que tenho da tua decadência... Aquela que sempre desejei ver em teus famigerados olhos!

4 comentários:

Lucas Moura disse...

Senti que, se comentasse aqui, não conseguiria mostrar nem de perto o quanto fiquei impressionado com esse teu escrito. Porém, o não comentar faria com que eu omitisse injustamente essa coisa que me tomou enquanto lia-te.
Magnífico!
Parabéns.

Anônimo disse...

ohn..curti, Ninazóica! seiuhseiuh sério, achay digno. ;)

Unknown disse...

Achei um tanto "tenebroso", essa palavra de lembra alguém?

Madalena disse...

Sim, vingativa!