Soprou um novo momento. Não um começo. Apenas mais um dia em que abri os olhos para viver, mas eu estava escassa de mim. Tudo estava lá, menos eu. Todos os móveis e eu em lugar nenhum. O tempo foge - como fogem os pássaros dos predadores. Voam rápidos.
Quero paz.
Quero cores novas.
Embora tudo continue como está.
Menos eu. Eu não estava lá.
Eu não existia.
O céu estava com cara de domingo: limpo e com algumas afastadas nuvens sem sardas.
Eu, estava ofegante. Andava meio depressa.
Cheguei ao meio do jardim e parei. Olhei o céu naquela imensidão.
Afundei os joelhos na terra fofa e usei minhas mãos de apoio.
Sentia a terra pulsando em meus dedos. Estava viva, úmida, com o cheiro da chuva.
Eu tremia e uma lágrima brincou pela minha face e despencou, como se despencam os suicidas das pontes.
Era solidão.
A porta bateu. Respirei longamente duas vezes seguidas. A primeira foi dor. A segunda, alívio.
Então eu joguei as fotos pela janela. E cortei os botões azuis das rosas.
Não existia mais nada.
Não existia você. Não existia os móveis.
Tudo saiu do lugar e novas cores amanheceram.
Eu estava lá, finalmente.
Viva. A vontade de existir pulsava no meu sangue.
Finalmente eu me sentia.
E como era bom me sentir.
Um sorriso agora.
Era liberdade.
Eu a sentia nas minhas veias. Uma liberdade com um toque de solidão, mas não importava. Eu me pertencia, eu era livre.
Nesse momento, a terra passou a sentir minha vivacidade.
Estava viva, morna e com cheiro de liberdade.