quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Desafogo.

"Toda trilha é andada com a fé

De quem crê no ditado

de que o dia insiste em nascer"


Primeiro paro diante do espelho e me observo: falta água.

Estou murcha, perdi algumas pétalas e os espinhos não me protegem como antes, pelo contrário. Estou seca, sem adubo, perdendo a vida e o verde já não me veste mais. O marrom anda combinando mais com meus olhos, que estão tristes, mas ainda lutam por um pouco de amor. Vou me desfolhar, me despetalar e isso vai doer – embora já esteja doendo ainda que não assuma – até que, finalmente, eu veja um pequeno botão cor vermelho-sangue, esse vermelho que sempre me vestiu bem, que mostra o ápice da existência na minha íris, que me faz inspirar – e encontrar - o cheiro de vida no meio da decomposição de uma era que foi difícil dizer adeus. Então eu vou escutar todas as músicas, rever todas as lembranças, apoiar minha mão sobre meu coração e deitar encolhida abafando meu choro, porque é uma dor só minha, uma dor que preciso vivê-la sozinha, uma dor que precisa consumir meu corpo e minha alma para, enfim, eu me libertar. Uma dor que ninguém tem que perguntar o porquê, que ninguém precisa me acalentar, porque é minha, só minha e só eu sei. Só eu sei a mistura de todas as angústias, de todas as pontadas. Só eu sei a sensação do passado pontiagudo enfiar-se dilacerante sobre meu peito e ficar remoendo na ferida aberta, lembrando-me que eu ainda não me desapeguei e que me finquei mais fundo do que eu podia.

E apesar de todo esse egoísmo, tem gente que eu sei que não vai embora, tem gente que consegue formar um sorriso no meu rosto e fazer derramar algumas lágrimas de felicidade, porque nem tudo é fim de festa, fim de noite e fim do pouco de nós. E eu sei que posso seguir em frente, que eu tenho força pra isso, que eu tenho astúcia para o novo, que eu tenho idéias para o meu progresso, que eu tenho amor dentro de mim.

E acaba que alguém vem, pega um pouco da minha dor, limpa minhas lágrimas e aponta para o futuro, então eu rio e percebo que não estou só.


E que nunca estarei, apesar dos invernos cortantes da vida
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terça-feira, 4 de novembro de 2008

Uma pitada de conversa Robertista

E depois de ter mastigado e engolido todos esses sentimentos, até então não triturados, eu fiquei esperando ansiosa pelo final da digestão. Foi a melhor opção, estava sem condições de ficar me digladiando com os peixes estranhos e cegos, foi por isso que resolvi mergulhar no silêncio da região abissal. Gosto bastante do silêncio, aliás, o silêncio tem sido a melhor música nestes últimos tempos. Depois é só sair sozinha, sem rumo e com todos esses pensamentos (e um caderno para anotar todas as receitas das idéias). No entanto, vomitarei toda essa pressão da vida antes do meu passeio, não quero levar pesos nem medidas, não mesmo. Eis que viver, também, é estar em resguardo do exterior, de todo esse calor, de todos esses peixes... E ando com tanta preguiça para esses peixes que fugir deles e se refugiar em mim vem soando tão reconfortante, que vou dar um murro na próxima pessoa a qual me falar que não ando vivendo.